Dança de Fogo na Noite do Porto: Natalia

Fire artist kneeling with flames in her hands at dusk, Porto Portugal

Uma noite que começou como qualquer outra

Numa noite no Porto, eu e o Alex (alcunha Aqua Freska) passeávamos – eu com a mochila às costas e ele com as suas caixas de água. O pôr do sol no Jardim do Morro já estava visto; era o meu ritual diário. A partir dali normalmente seguia de volta para casa.

Desta vez havia um Starbucks pelo caminho. O Alex foi buscar um café e eu fiquei à porta à espera. A certa altura reparei que alguém começava a mexer-se num canto da praça. Parecia que vinha aí um show de fogo. Quando o Alex voltou, disse-lhe para irmos ver e beber o café lá fora, porque ali ia acontecer alguma coisa.

O Alex sorriu e disse:
“É a minha amiga, a Natalia.”

Primeira noite: apenas espectador, não fotógrafo

O Alex apresentou-nos. A Natalia, ao mesmo tempo, preparava a música e o material. Sentámo-nos no lancil e ficámos a ver.

O que vi naquela primeira noite não foi apenas um show de fogo. Era pura paixão e alegria naquilo que ela faz. O fotógrafo na minha cabeça começou a ver enquadramentos: aquela rotação ali, aquele sorriso acolá, o círculo de fogo à sua volta, as faúlhas a subir para o céu escuro. Durante todo o espetáculo vi vários momentos que teria gostado de apanhar em fotografia. Mas na câmara estava montada uma 24–70mm f/4, que naquela escuridão simplesmente não ia aguentar. Mesmo assim, nessa altura já tinha um plano na cabeça.

Depois do espetáculo perguntei à Natalia: “Se eu voltar amanhã e te fotografar, está tudo bem?” Ela acenou com a cabeça – está.

Segunda noite: fogo, dança e 50mm

Na noite seguinte apareci já com uma objetiva melhor. Uma 50mm f/1.8 – exatamente o que era preciso. Luz fraca, fogo vivo e movimento rápido são uma combinação que não perdoa lentidão.

Quando o show começou, percebi rapidamente que aquilo não ia ser uma sessão simples de “tiro umas quantas fotos e está feito”. O fogo iluminava o rosto e o corpo da Natalia ora em demasia, ora quase nada. Ela movia-se depressa, rodopiava, às vezes lançava o fogo para o ar e a luz mudava em segundos. Fui atrás disso tudo.

Depois do espetáculo: mais difícil do que fotografar

No dia seguinte, ao ver as fotos, foi sinceramente mais difícil do que a própria noite na praça. Fazer a triagem das imagens foi como rever um pequeno filme, porque em cada foto havia algo de que custava abrir mão.

É aquele bom problema que aparece quando o modelo é genuíno e está mesmo presente. Tive de repetir várias vezes a mim próprio que a galeria não podia ter 300 fotografias, por muito que eu quisesse. No fim ficaram as imagens em que o fogo, o movimento e a energia da própria Natalia formavam um todo.

Algum tempo depois, a Natalia fez uma publicação no Facebook onde agradecia aos fotógrafos que tinham cruzado o seu caminho – esses “milhares de cliques” que a ajudam a ver-se a si própria e a transmitir realmente a sua arte aos outros. Lá no meio havia também um agradecimento a mim pelas fotografias. Momentos assim fazem-me simplesmente pensar porque é que ando sempre com a câmara às costas. Mas é precisamente por causa de momentos como este!

Amizade numa rua do Porto

A Natalia não ficou apenas como modelo de uma noite. Continuámos a falar durante todo o meu período no Porto. Às vezes, quando os shows dela acabavam, ficávamos horas sentados na rua a falar da vida, da arte e das viagens. Isso passou a fazer parte do meu Porto – não só as fachadas e as pontes, mas também as pessoas que mantêm a cidade viva.

Se fores ao Porto

Se fores ao Porto, então:

  • vai sem falta ver o show de fogo da Natalia. Ela atua muitas vezes perto da Ponte Dom Luís I, onde a luz do entardecer e o ambiente junto ao rio criam o cenário para o show.
  • cumprimenta-a da Estónia. Podes dizer-lhe que chegaste até ela “através das fotografias de um estoniano”.
  • valoriza a autenticidade dela. Coloca também qualquer coisa na caixa – algumas moedas ou uma nota. Esta arte nasce não só da paixão, mas também de todo o tempo que ela lhe dedica.

Se estiveres no Porto e procurares uma artista “a sério” para o teu evento, alguém que não o faça apenas “porque é trabalho”, então a Natalia é a pessoa certa. Nas mãos dela, o fogo é mais do que um simples efeito – é a língua em que ela fala.


No caso da Natalia, é uma história sobre fogo, amizade e uma noite no Porto em que eu estava atrás da câmara a pensar em quantas pessoas no mundo fazem aquilo que realmente amam e em como é uma enorme sorte poder estar, nem que seja por um momento, presente na história delas.

Galeria completa https://antisoosaar.ee/photography/elamused/fire-dancer-natalia/

Podes encontrar a Natalia a atuar no local abaixo: